quarta-feira, 7 de setembro de 2011

SUGESTÃO DE LEITURA NO MÊS DO CIVISMO: JOSÉ MURILO DE CARVALHO E “A FORMAÇÃO DAS ALMAS”




Caríssimos,
Em algumas aulas que tratam dos nacionalismos brasileiros, sempre cito a obra “A formação das almas e o imaginário da República” do grande historiador José Murilo de Carvalho. Hoje, 7 de setembro, ao levar os meus filhos para ver o desfile cívico – e fiz isso pois quando criança ia ao mesmo com meus pais e, simplesmente gostava - reportei-me ao passado e lembrei o quão era pomposa esta data. As Forças Armadas e as Forças Auxiliares desfilavam em grande estilo com dobrados que incitavam o civismo e o patriotismo – e nós crianças agitávamos bandeirinha e cata-ventos verde e amarelo. Porém, hoje foi diferente. Percebi que os próprios soldados não tinham mais o sentimento cívico – logo eles que eram os mais fortes em termos de discurso patriótico estavam tristes, ou irritados, não sei. Mas celebrar o quê? Talvez as canalhices do Brasil... “celebrar nossa bandeira... nosso passado de absurdos gloriosos tudo que é gratuito”... Mas isso não pode ser celebrado e reflete nas próprias instituições como nas Forças Armadas onde “os soldados armados, amados ou não” marchavam... mas com a certeza de estarem “perdidos de armas na mão, pois nos quartéis ainda lhe ensinam antigas lições de morrer pela pátria e viver sem razão” – não pude esquecer das flores...
Dito isso, estou postando hoje uma indicação de leitura. É claro que a mesma se reporta à proclamação da República, mas dá pra fazer “uma ponte” com os episódios do sete de setembro.
A grande qualidade do texto de José Murilo de Carvalho reside na discussão dos conflitos políticos em torno dos elementos simbólicos como legitimadores de um regime, de uma determinada articulação social, de um determinado status quo. Daí a ponderação inicial que feita sobre o subtítulo do livro: o imaginário da República
O livro está dividido assim:
Capítulo I – Utopias republicanas – Analisa os modelos políticos e filosóficos norteadores do positivismo, explorando tanto a aplicação prática destes no Brasil, como a adaptação sofrida neste processo.
Capítulo II – As proclamações da República  - Neste Capítulo, o autor discute as diversas proclamações da República e o consequente impasse simbólico – derivado das lutas pela criação de um imaginário social entre as diferentes vertentes político-filosóficas – externado nas figuras simbólicas de Marechal Deodoro, Floriano Peixoto, Benjamim Constant e Quintino Bocaiúva
Capítulo III – Tiradentes: um herói para a República - Depois de abordar o imaginário do "fato" (a proclamação da República), Carvalho analisa a construção de um mito de origem da República brasileira – Tiradentes – e suas diversas apropriações por diferentes (e até mesmo antagônicos) grupos sociais
Capítulo IV – República-mulher: entre Maria e Marianne - A etapa seguinte, apresentada pelo livro, é a tentativa, segundo o autor, frustrada da criação de uma simbologia para a própria República, capaz de aproximar Estado e Nação, República e Brasil, como por exemplo, a  apropriação do modelo francês "Marianne", muitas vezes travestido da musa comteana Clotilde de Vaux.
Capítulo V – Bandeira e hino: o peso da tradição -  Ele aborda a criação dos símbolos formais, da bandeira ao hino nacional, exigidos para qualquer Estado, os quais acabaram por tornar-se muito mais representativos da Nação brasileira do que do Estado, ou melhor, do regime republicano
Capítulo VI – Os positivistas e a manipulação do imaginário  - encerra com a retomada das questões anteriores, principalmente a aplicação dos modelos filosóficos comteanos no Brasil, com a finalidade de promover uma reflexão sobre a construção de um imaginário da  República capaz de “amalgamar” o Brasil como Nação, isto é: enquanto “comunidade de sentido” ou “comunidade imaginada”, numa expressão de Benedict Anderson.

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